O Mistério da Existência
Meu desvio do Numinoso, do Divinal, também se deu, em parte, pelo conhecimento científico e filosófico. Sem jamais ter estudado estas questões de forma acadêmica, o acompanhamento mais ou menos atento dos debates entre ciência, filosofia e criticismo histórico de um lado e a crença religiosa organizada (me refiro aos teólogos, naturalmente, não ao defensor comum que usa argumentos do tipo "você prefere descender de Deus ou do macaco?", ignorando que Darwin jamais fez tal afirmação, apontando apenas para um pretenso ascendente comum na cadeia evolutiva) de outro, pareciam apontar-me no sentido de opção, ora do ateísmo, ora do agnosticismo. O problema é que quando se abraça o método científico como válido, você muitas vezes não se preocupa em verificar todas as bases das afirmações ditas científicas. Isso, basicamente, por 2 motivos principais. Primeiramente, você acaba, muitas vezes, partindo do pressuposto de que sendo afirmado pela ciência, deve estar certo! Veja-se a questão do grau de precisão do método investigativo através do sistema de radiação do Carbono 14, ao qual dei plena aceitação durante anos! Segundo por que tamanho é o edifício do conhecimento atual que é virtualmente impossível efetuarem-se todas as averiguações de cada ramo do saber! Não há mais como existirem Leonardos da Vinci. "Homens renascentistas" que quase dominavam todos os mais importantes ramos do conhecimento de sua época. Vivemos na era da especialização. Cada um dando o melhor de si em sua área de atuação. Apenas alguns poucos brilham em várias áreas ao mesmo tempo. E se se verifica atentamente, percebe-se, sem embargo, que o brilho não é uniforme! No meu caso, sem importância para a ciência ou filosofia, mas importante para mim mesmo, com o passar do tempo, aquela tendência ao questionamento constante que nutre as mentes intelectualizadas ou semi-intelectualizadas, como me definiria, induziu à reversão do processo. "Quem com ferro fere, com ferro será ferido". Realmente, o intelecto é "perigoso"! Nas palavras de John Dewey, "se se começa a raciocinar, ninguém pode garantir o que acabará surgindo, exceto que muitos fatos, fins e instituições estarão certamente condenados. Cada pensador coloca em perigo parte do mundo aparentemente estável e ninguém pode prever inteiramente o que surgirá em seu lugar". Também a ciência é vítima potencial do intelecto! O navio da Teoria da Evolução das Espécies começou a fazer água há muito tempo, chocando-se com importantes noções da ciência genética mais recente. Nem é fruto do acaso que o chamado "Elo Perdido", que mostraria a existência do ancestral comum entre as duas espécies nunca foi ou será achado, uma vez que a crença em sua existência é mais difícil de sustentar do que a fé cristã, cujas evidências sobre a veracidade de sua fonte fundante é magnificamente apresentada pelo Professor Dr. Rodrigo Silva, neste maravilhoso programa, "Evidências"! A própria ciência repousa sobre bases periclitantes ou, no mínimo não muito confiáveis. Diminuiu muito o número de físicos que apoiam a ideia de um Big Bang. Choques de alguma importância entre a Teoria da Relatividade e as Física e Mecânica Quânticas, o Princípio da Incerteza de Heisenberg, entre outros, mostram que, ao menos no campo da Cosmogonia, a ciência não nos apresenta nenhuma vantagem sobre outras concepções. Na ciência parece imperar de fato o mesmo "Como se" que Vaihinger apontava já em 1911, onde dizia que o nosso conhecimento se apoia num contexto de ficções habilmente concatenadas, não verificáveis na prática. Tais ficções, empregadas em todos os campos do conhecimento e da atividade humana, acrescem enormemente a realidade, mesmo se deliberadamente falsificam o curso das impressões imediatas. Também as filosofias racionalistas andam de mal a pior. O entusiasmo inicial da Escola de Viena, no primeiro quarto do seculo XX, com o obscuro Tratado Lógico Filosófico de Wittgenstein e o "positivismo lógico" de Bertrand Russel já se esvaíra antes mesmo do tiro de pistola de um estudante ter matado o Professor Schlick nas escadarias da Universidade de Viena, pois a "metafísica", expulsa pela porta dava um jeito de voltar ao interior do edifício lógico pela janela. A ciência lida com conceitos como "solúvel", "magnético", "campo gravitacional", "energia" ou "libido", que, a rigor, não se podem constituir, ou seja, reduzir completamente a partir da experiência. Então, lá se vai, submisso, o empirismo pela janela! Alguém se contenta com o "critério da verdade" de Popper? Eu, não! Meu afastamento temporário (demasiado longo) da religião não se deu em função do excesso de estudo da ciência ou da filosofia, antes se configurou mais pelo filosofar pouco, sem o devido rigor. Esclarecendo de outra forma, veja-se a afirmação de um dos criadores das bases do método científico, Francis Bacon, repetida mais tarde por outro expoente das bases filosóficas da ciência moderna, David Hume: "pouca filosofia", dizia Bacon, "tornará o homem ateu, enquanto um mais demorado e profundo e coerente filosofar converterá o ateu à religião e o ajudará, portanto, a encontrar Deus." A atitude de cientistas como Hood lembra a posição dos intelectuais, escritores, artistas e jornalistas defensores da União Soviética nas décadas de 30 e 40 do século passado. Mesmo após as revelações mais terriveis sobre a realidade soviética e os crimes do período stalinista, não podiam admitir sua validade, que destruiria a base de sustentação de suas atividades por longos anos, ou seja, sua "crença" que nada tinha de científica como acreditavam! O mesmo parece suceder com cientistas como o Dr. Hood. A ciência parece constituir-se numa religião secular, se se pode juntar esses termos... Uma vez comprometidos com a justeza de sua concepção, de sua Visão de Mundo, por pura teimosia e orgulho intelectual não, conseguem admitir a si mesmos que seu julgamento estava errado na questão essencial de nossas vidas: Deus existe, "volentes aut nolentes", isto é, "quer eles queiram ou não". Nisso eu creio!