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quinta-feira, 12 de março de 2009

Woody Allen e os Mistérios do Amor, Do Sexo e da Paixão


“Vicky Cristina Barcelona” é com absoluta certeza o melhor filme de Woody Allen nos últimos 5 ou 6 anos. A história do filme aborda sem pudor ou eufemismos, de forma sensual, mas invulgar, vários temas complexos como a bigamia e o desejo sexual. À medida que o enredo se desenvolve, histórias amorosas vão tomando forma, sempre pautadas por uma forte tendência dramática e rodeadas por vários momentos de leve descontração e humor, que relaxam o espectador e conferem uma simplicidade incrível à história. Duas amigas ("Vicky", Rebecca Hall e "Cristina", Scarlett Johansson) são convidadas por parentes de Vicky a passar o Verão em Barcelona e aceitam sem pestanejar, claro. Na cidade, elas conhecerão um pintor, chamado Juan Antonio (Javier Bardem), um homem extremamente sensual e atrativo, que se separou de sua desequilibrada mulher, Ana Helena (Penélope Cruz), com a qual teve uma relação tão tempestuosa que ambos quase levaram um ao outro à morte. Vicky e Cristina se apaixonarão simultaneamente por Juan Antonio e este relacionamento com o pintor mudará gradativa e profundamente a personalidade de cada uma delas. Ao final do Verão, as personagens voltarão às suas disposições normais de vida, mas sua subjetividade nunca mais será a mesma. Vicky, que priorizava o Mestrado, antes da viagem, volta aos estudos. Cristina, que passara por uma dolorosa ruptura amororosa e desejava mudar de ares e de objetivos na vida, permancerá solteira e Juan Antonio e Ana Helena também continuarão separados. Mas, nenhum dos personagens será mais como antes deste Verão. O que depreendemos e aprendemos com o filme é que as experiências e paixões quase nunca perduram por toda a vida, inclusive, às vezes, sendo tanto ardentes quanto efêmeras, mas nos ensinam um pouco sobre nós mesmos e sobre nossos desejos, ampliando nossa consciência sobre nosso ser e a experiência chamada vida. O tema é bastante ajudado no sucesso do projeto pela qualidade do elenco, com atuações excelentes de todos os principais envolvidos e essa sensibilidade especial que Woody Allen demonstra quando aborda questões como o universo feminino, o sexo e o amor. Nisso, ele se mostra tão competente quanto no humor do início de sua carreira. Uma nota de 1 a 10? 8! Assistam o filme e com certeza descobrirão algumas verdades que no fundo já conhecemos fragmentariamente, experienciamos de forma camuflada, semi-revelada, semi-oculta, mas nunca conscientizamos completamente até que de repente a vemos na tela de um cinema, nas páginas de um livro ou nos momentos mais intensos de nossas vidas.

terça-feira, 10 de março de 2009

A Ressurreição


Não, não é o título de mais um filme ou livro, embora seja uma história real, ligada ao cinema hollywoodiano. É uma pincelada biográfica de um dos atores que eu mais apreciava, por volta dos anos 80: Mickey Rourke. O ator começou a atuar com uma pequena participação no filme "1941", de Steven Spielberg (1979). Suas atuações seguintes em "Dinner", "Rumble Fish" e "The Pope of Greenwich Village" o tornaram um dos atores mais conhecidos de sua geração. Mickey tinha uma bela estampa que lhe deu o status de um dos atores americanos mais sexy e atingiu o auge do prestígio junto ao público como o inventivo e sensual amante de Kim Bassinger, em "9 e 1/2 Semanas de Amor" (1986). Junto à crítica, conquistou respeito pelas atuações como o deformado Johnny Handsome (em "Johnny Handsome", 1989) e Harry Angel (em "Angel´s Heart", no Brasil: "Coração Satânico"; um dos melhores filmes de terror-thriller produzidos em todos os tempos, lançado em 1987).
Nesta história faustiana, baseada no livro de William Hjortsberg, adaptado e dirigido por Alan Parker, o detetive particular Harry Angel é contratado (no ano de 1955) por um "homem de negócios" chamado Louis Cyphre (Robert de Niro) para localizar uma pessoa desaparecida que não cumpriu um contrato assinado com ele. Num típico thriller, no qual o quebra-cabeças é montado passo-a-passo, através dos elementos surgidos ao longo da investigação e em meio a uma terrificante trilha de sangue e intrigas, Harry acaba descobrindo que a pessoa que Louis Cyphre (Lúcifer) procura é ele mesmo, cuja memória sobre seu contrato foi apagada em virtude de um acidente e internamento numa clínica psquiátrica. Seu verdadeiro nome é Johnny Favorite. Ele fora um cantor de certo sucesso no início dos anos 40. Johnny fez um pacto com o Diabo e depois praticou um culto de magia negra entregando a alma de outro rapaz (um soldado, como ele, na época) para escapar ao acerto final. Mas, o Diabo não pode simplesmente ser passado para trás e vem cobrar a dívida. A partir do momento em que é contratado e começa sua investigação, "Johnny Favorite-Harry Angel" se divide em duas personalidades paralelas, distintas, do tipo Dr. Jekill e Mr. Hide, sem ter consciência disso. O detetive investiga e o cantor mata para encobrir a verdade. A cena em que Angel finalmente se conscientiza de que é Johnny Favorite e de todo o mal e violentas mortes que causou, além da convicção de que sua alma está eternamente perdida, é uma das grandes cenas do cinema em muitos anos, assim como também ocorre na inesquecível cena final em que Johnny, ao descobrir que, não só cometeu incesto com a própria filha, mas também a matou, declara, com os olhos marejados e uma profunda desesperança interna, que irá arder no Inferno. Mickey, além de perfeito, não deixando nada a desejar em termos de atuação ao grande Robert Niro - o qual, claro, teve uma atuação "irônico-satânica" memorável - estava no auge da bela aparência. No início do filme, Angel parece apenas um típico detetive cínico e galanteador do Brooklin. Ao longo da história, vai se tornando num ser atormentado e assustado com o que vai descobrindo, chegando à semi-desintegração psíquica ao final da trama, ao descobrir a verdade sobre si mesmo (não é esse um dos maiores medos que afligem os homens? E, no entanto, mesmo assim, não existe um poderoso impulso interior que nos força a buscar as respostas sobre nós mesmos, o que somos, qual a nossa posição na vida, no Universo, mesmo que os fados nos pareçam invencivelmente contrários, tal como aconteceu ao rei grego Édipo?).
Mickey, porém, como a maioria de nós, tem seus demônios interiores e o modo com que lidou com eles praticamente destruiu sua carreira. Duas principais coisas determinaram esse caminho. Uma delas foi um ego enorme e um comportamento atrevido e violento que não eram calculados para facilitar amizades ou simpatia, além de outro comportamento muitas vezes comum nos meios artísticos: em vez de cultivar as boas amizades, Mickey preferiu aquelas nada sólidas, dos aproveitadores, insensatos e inconsequentes (inclusive, gente violenta do tipo Hell´s Angels). A outra é sua - na época - não resolvida questão com o boxe. Na juventude, ele fora campeão amador e alguma força interior o impeliu a tornar-se profissional, em 1991, prescindindo do cinema, onde suas relações já estavam algo desgastadas. Mickey, inclusive se deu relativamente bem na carreira, vencendo a maioria de suas lutas, mas foi muito castigado, tendo o nariz e vários ossos faciais quebrados mais de uma vez, o que o levou a uma série de cirurgias e curiosos implantes de próteses que tornaram seu belo rosto algo semelhante ao personagem por ele desempenhado em "Johnny Handsome".
Depois de perder a respeitabilidade junto à maioria dos estúdios e produtores em Hollywood, Mickey perdeu sua fortuna, sua mulher e passou a sobreviver com papéis arranjados por amigos como Sylvester Stallone e participações em TV. No intermezzo, entre 1995, quando voltou a atuar, e a atualidade, fez alguns papéis razoáveis outros fracos, em filmes médianos ou fracos como "Era uma vez no México", com Antonio Banderas e Johnny Depp, "Get Carter", com Stallone e "Domino", com Keira Knightley. Mas a volta por cima começou com "Sin City", onde a velha verve de Mickey voltou a brilhar em cena como Marv, ao lado de Elijah Wood e Rutger Hauer. O grande sucesso retornou definitivamente com sua atuação como o lutador de wrestling, Randy Robinson, o qual, em meio a um combate, sofre um infarto. Ele é informado de que pode morrer caso volte a lutar, o que faz com que busque um emprego em uma loja de mantimentos. Paralelamente ele tem um relacionamento com Cassidy (Marisa Tomei), uma stripper. Ele também tenta retomar o relacionamento com a sua filha, que abandonou ainda criança. Um dia surge uma proposta para que enfrente seu grande ex-rival, o que faz com que Randy pese os riscos de saúde que sofre com a chance de recuperar sua dignidade. Mickey teve que ser duramente "administrado" pelo Diretor Darren Aronofsky e graças a isso está simplesmente sensacional. A cena em que, no balcão de frios, ele tem de atender pessoas comuns como clientes (não atores) é muito impressiva (foi preciso muita insistência de Aronofsky para Mickey fazê-la, pois, segundo este, a questão o tocava muito de perto e deep down inside, para usar uma expressão em Inglês), sendo extremamente sugestiva da situação que ocorreria com alguém que já foi importante e fosse flagrado na presente condição humilhante. Merecidamente, o ator foi agraciado com o Globo de Ouro, (o filme arrebanhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza), além do "Oscar" britânico, como melhor ator, o "Bafta". Só perdeu o Academy Awards (Oscar Americano) para Sean Penn. Não sei se foi justo, pois não vi, ainda, a performance de Penn. Agora, cá entre nós, estando sob o domínio de suas melhores faculdades, sou muito mais Mickey Rourke.
Como consequência de sua mudança de atitude na vida e sua determinação em recuperar seu prestígio e objetivos de vida, as portas da oportunidade se abriram novamente para este homem, nascido Philip Andre Rourke Jr, em Schenectady, Nova York (1952), tendo três projetos em andamento com lançamentos previstos para 2010: "Sin City 2", "13" e "The Expendables", que, no Brasil, deverá ser intitulado "Os Mercenários". O filme é produção de Sylvester Stallone e terá diversos "famosos" (pelo menos, bem conhecidos nos meios cinematográficos) como Dolf Lundgren, Jet Li e Arnold Schwartznegger, aparecendo como o próprio Governador da Califórnia. Algumas cenas serão filmadas no Brasil, que se tornou, de uns tempos para cá, um point de locações do cinema americano (o Brasil é uma das maiores fontes de renda do cinema ianque, que tem, atualmente, 75% de sua arrecadação no exterior). Uma palavrinha sob Aronofsky. Não gostei de todos os seus trabalhos, mas "Réquiem para um Sonho" e "The Wrestler" já podem entrar na modesta história do cinema como obras de valor.